sábado, 1 de junho de 2019

"Vai para o Diabo que te carregue. Quem te trouxe cá?"

"Também a leste havia havia novidades. A descoberta de Colombo estimulara os Portugueses. Sob o comando de um capitão de trinta anos, Vasco da Gama, Lisboa armava três caravelas que, dobrando o cabo da Boa Esperança e levados pela monção do sudoeste, chegavam a Calecute a 20 de Maio de 1498. 

Vasco da Gama fundeava a meia légua da margem e enviava a terra um marinheiro que os habitantes levaram a dois árabes de Tunes que falavam castelhano. As primeiras palavras deles foram: "Vai para o Diabo que te carregue. Quem te trouxe cá?" 

O príncipe de Calecute acolheu friamente os recém-chegados. Vasco da Gama conseguiu, no entanto, partir sem embarços com uma carta deste príncipe para o rei de Portugal. "No meu país", dizia ele, "há muita canela, muito cravo-da-Índia, gengibre e pimenta, pedras preciosas, e o que eu pretendo do teu país é ouro, prata, coral, e pano escarlate." Pedia ouro. Era o cúmulo. 
 
A volta foi demorada e penosa. Vasco da Gama perdeu um navio e dois terços dos seus homens. Mas a sua chegada a Lisboa foi triunfal e ele recebeu o título de almirante do mar das Índias. A expedição custara duzentos mil ducados - a venda das especiarias trazidas rendeu um milhão (1499).

Os Portugueses tinham encontrado o caminho da Índia, e tinham intenção de se assegurar do monopólio do comércio do oceano Índico, mesmo que fosse pelo terror. 

Vasco da Gama partiu de novo em 1502, encontrou em frente de Calcute uma frota árabe carregada de arroz; mandou cortar o nariz, as orelhas e as mãos às tripulações - oitocentos homens - pela dupla qualidade de concorrentes e de infiéis. Depois abandonou-os nos navios em chamas. O confisco pelos Portugueses do comércio indiano arruinava os negócios árabes, comprometia os interesses do sultão do Egipto e de Veneza. Do que resultou uma coligação que há de conhecer alguns sucessos provisórios, os quais bastarão para fazer cair Vasco da Gama em desfavor.

Depois, os Portugueses recomeçarão o seu avanço para a Índia, para a Ínsulindia, para a China,..."


in Histoire du Monde, Le Feu de Dieu [Jean Duché, 1960]





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